quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Falando sobre - Consumismo

Gente, essa é uma coluna que falará de diversos assuntos, alguns polêmicos outros somente para reflexão.
A intenção é buscar maior dados e ver como coisas do passado ainda se fazem presente no meio de nós.


O capitalismo tem lá suas particularidades e implicações, por exemplo, o consumismo. 
O consumismo desenfreado sorve as pessoas. Sim, digo devoradas porque sem demorar elas são ruminadas, envoltas pelas consequências do ato, que  muitas vezes é impensado, e depois digeridas, excretadas na lama fazendo sussurrar os ais no fundo do poço que se encontra.

O indivíduo que tem o costume de ceder aos seus caprichos motivado pela situação que vive
 (seja ela boa ou ruim), por sempre se achar merecedor ou querer preencher o vazio, chega ao ponto de ter só isso para oferecer, querer comprar amor, respeito e consideração.

Impressiona saber o que substituiu a moeda de troca; a permuta: presentes, favores sendo negociados com lugar na vida de alguém. 
O desesperado apela com o que o compõe e diz:
Aceite meus mimos e ceda-me o espaço que eu quiser em sua vida, suas opiniões avalie bem, pois pode me ofender, aceite que eu sou mimado e fútil, com a verdade eu não sei lidar. Esse papo de personalidade é careta demais, suas defesas guarde para os outros.
Algum sabido já disse que cada um dá o que possui, pena que seja tão pouco comparado a uma vida e a conquista de sentimentos, que valem tanto, ou melhor em valor não se pode estimar.
Sentimentos nos vivifica e perduram, cultive-os. No lugar de querer compensar sua pequenez de alma e limitação de caráter -  procure ser do que oferecer a possibilidade de um 'ter' vazio, um ter que às vezes nem mesmo se tem. 
Já dizia o Millôr Fernandes: "Procure ter sem que o ter te tenha." Não seja manipulado, guie. Não seja mandado, controle.
É vergonhoso querer ganhar pessoas com seres que não produzem vida; objetos, etiquetas e marcas são inanimados, pois é, sem sentidos e mortos. A felicidade que produzem tem prazo de validade e contentam-se com o fundo de um baú largado em qualquer canto do sótão.
Os objetos se opõem a razão do ser verdadeiramente gente, sensível e portador de sentidos.
Não seja peça de vitrine onde tudo reluz, contudo depende de holofotes que não lhe pertencem para aparecer.
Quimera não seja encontrar alguém que com ousadia ainda diga: "Presentes não me compram, etiquetas não me fazem".

EU ETIQUETA - Carlos Drummond de Andrade

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

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